quinta-feira, 20 de agosto de 2009

ainda o com'paço

A propósito da nossa presença no com'paço 09, o Hélio descobriu este texto.


«Todas as nossas filarmónicas perdidas…»
Hoje domingo dia 12 de Julho de 2009 pelas 11 horas da manhã aconteceu uma coisa quase mágica. Debaixo daquela árvore do Príncipe Real que dá muita sombra e onde gostavam de parar dois que a Terra da Verdade já lá tem (Agostinho da Silva e Eduardo Guerra Carneiro) surgiu a Filarmónica Frazoeirense de Ferreira do Zêzere para tocar durante 30 minutos várias peças musicais debaixo daquela sombra.
Nasci perto de uma «casa do ensaio» e sou bisneto, neto, sobrinho, sobrinho-neto e primo de filarmónicos rurais. Lembro-me bem de ver grupos de homens chegarem dos trabalhos do campo e, depois de comerem em casa qualquer coisa à pressa, irem para a «casa do ensaio» ás vezes com o pó da terra preso aos vincos das calças. E lembro-me bem de achar (já nessa altura) quase mágico esse encontro luminoso entre o pó da terra e a pureza perseguida dos sons lidos nas linhas das pautas nas estantes de madeira.
(Tantas estantes de madeira que o meu avô fez para malta amiga com bocados que sobejavam das portas e das janelas, ainda hoje devem servir e ele já morreu em 1979…)
Depois passei a tarde no Rossio onde as doze filarmónicas foram chegando via Rua Augusta para tocarem o hino respectivo e depois uma peça em conjunto – «Lisboa à noite». Por fim um grupo formado com elementos das mais diversas paragens do país (de Vila Real de Santo António a Crestuma, de Seia a Alcácer do Sal) foi dirigido pelo maestro Délio Gonçalves. Diz um poeta meu amigo (e tem um livro com um título assim) que a nossa vida é as Filarmónica que vamos perdendo. Esse poeta chama-se Mário Machado Fraião e está certo. Hoje foi um dia mágico: as filarmónicas vieram de novo.
José do Carmo Francisco.


Olá a todos,
Sou músico da Filarmónica frazoeirense de Ferreira do Zêzere, actuei nesse dia no Principe Real e fiquei lisonjeado com o texto que acabei de ler! Quando actuamos, raramente temos feed-back do público que nos vê e ouve, porque por vezes parece que ninguém nos liga… parece que ninguém pára para nos escutar… muitas vezes é essa a sensação com que ficamos.
A nossa filarmónica é das mais antigas do país, os nossos antepassados também iam para os ensaios com as botas cheias de terra e deixavam as enxadas à porta… e temos muito orgulho que tenha sido assim… são as nossas raízes.
Hoje em dia já ninguém leva a enxada para o ensaio… mas o ensaio continua a ser depois de um dia de trabalho… por vezes bem comprido… tempo esse que “roubamos” ao nosso tempo livre para levar música e magia às pessoas… como foi nesse dia em Lisboa… porque a vida e o mundo não são só feitas de desgraças e miséria como vemos no telejornal, também tem coisas muito boas… ainda vale a pena viver neste mundo, ainda há pessoas que não se acomodam!
Hélio Antunes

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